A primeira noite do festival de cinema exibiu os filmes “A Flor do Buriti” e “Castanho”, que abordam o tema indígena. A homenagem à atriz amazonense Ednelza Sahdo, morta no ano passado, também foi um dos destaques da cerimônia no Teatro Amazonas. Na imagem acima, parte do elenco e equipe dos filmes de abertura, como Francisco Hyjnõ Krahô, Luzia Krahô e Adanilo (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real.)
Manaus (AM) – O público manauara lotou o Teatro Amazonas, no centro de Manaus, na terça-feira (22), para a cerimônia de abertura do 5° Festival de Cinema da Amazônia – Olhar do Norte. Atores, produtores, realizadores, cineastas e plateia prestigiaram a estreia dos filmes “A Flor do Buriti”, longa dirigido pelo português João Salaviza e pela brasileira Renée Nader Messora, e “Castanho”, curta metragem roteirizado e dirigido pelo artista amazonense Adanilo. A cantora Elisa Maia, do Amazonas, apresentou um show no formato voz e piano antes da exibição dos filmes.
A cerimônia também foi marcada pela homenagem à atriz Ednelza Sahdo, que morreu aos 78 anos em Manaus, no ano passado. Conhecida como “dama do teatro amazonense”, a artista foi ícone do Carnaval manauara.
‘A Flor do Buriti’
Fotos de still do filme “A Flor do Buriti”, que narra a saga dos indígenas Krahô (Foto: Divulgação).
“A Flor do Buriti”, produzido pela mineira Entre Filmes, fala do processo de luta pela terra do povo Krahô, no norte do estado do Tocantins. Até hoje os Krahô não tiveram seu território integralmente reconhecido e resistem aos impactos socioambientais provocados na região pelo desmatamento, pelas queimadas e por um projeto de irrigação com uso de agrotóxicos, que causou a seca dos rios Manoel Pequeno e Vermelho. O filme aborda, sobretudo, as diferentes formas de resistência organizadas pela comunidade da aldeia Pedra Branca.
O longa, que tem elenco indígena, explora os últimos 80 anos dos Krahô, um período marcado por um massacre do povo nos anos 1940, em que dezenas de pessoas morreram. A violência, protagonizada por dois fazendeiros da região, ainda ecoa na memória da comunidade, que foi representada na cerimônia por dois indígenas que participaram do filme, Hyjnõ Krahô e Luzia Krahô.
Segundo Luzia, o trabalho permite que a luta dos Krahô seja levada para o mundo, como forma de conseguir ajuda. “A gente luta pela terra para ter paz em tudo da nossa vida”, afirmou. Luzia disse que o trabalho também servirá como documentação da história do seu povo, porque “vai ficar para sempre”.
“No futuro as crianças vão ver o massacre, a invasão da nossa terra, a nossa cultura, as nossas tradições e as nossas lutas. O filme mostra isso, é muito importante para o futuro do nosso povo. Esse filme está mostrando tudo que nós sempre vivemos, e é uma oportunidade de ajudar o meu povo nessa luta”, declarou.
Ela ainda destacou que, apesar do filme ser dirigido por pessoas brancas, os indígenas lideram e protagonizam suas próprias histórias. “Nós mesmos lutamos, nós mesmo nos defendemos. Nós mesmo fazemos tudo sobre nós mesmo dentro da nossa nossa aldeia e os brancos nos ajudam. Porque somos nós que temos que mostrar o que a gente sente, né? É a nossa história e deixamos a história para sempre. Para outra geração”.
Para Hyjnõ Krahô, o filme traz fortemente a imagem política de convivência dos Krahô, por passar pelo passado, atualidade e futuro. Segundo ele, o trabalho é usado para lutar pela segurança da comunidade.
“O filme mostra, principalmente para a sociedade e para os políticos, como a gente vive, como a gente se organiza politicamente dentro da nossa comunidade. A nossa política é pública e apresentada pelo povo para fortalecer a nossa imagem politicamente para a sociedade. E o próprio político e governante também pode observar nesse sentido a proteção do território, não só da Amazônia, mas de outros biomas”.
‘Castanho’
Cena do filme “Castanho”, de Adanilo (Foto: Divulgação).
Conhecido por seus papéis como ator, Adanilo já atuou em longas como “Marighella”, “Noites Alienígenas” e “O Rio do Desejo”. Além de atuar, o jovem indígena escreve e dirige filmes. Ele estreou no Olhar do Norte o curta “Castanho”, gravado na Comunidade Cachoeira do Castanho, a 24 quilômetros de Manaus, em Iranduba, em novembro de 2021.
A história gira em torno da personagem Maria, interpretada por Sofia Sahakian, uma mulher estrangeira, latino-americana, que tem a chance de conviver com Dona Belém, papel interpretado pela atriz Rosa Malagueta, e seu filho Cícero, interpretado por Israel Castro. A convivência modifica as relações e a própria.
Essa é a segunda vez que Adanilo assume a direção de um filme, o primeiro sendo “521 Anos / Siaa Aira”, em 2021, feito de forma independente. “Castanho” foi produzido por meio do edital-prêmio Encontro das Artes, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SEC-AM) em 2020. A realização ficou a cargo do Teatro Galeroso, em coprodução com a Oca Produções.
Programação
A organização selecionou 50 filmes para a edição 2023 do festival. O evento ocorre em três espaços no Centro de Manaus: Teatro Amazonas, Teatro da Instalação e Palácio da Justiça. Além de exibição de filmes, a programação inclui rodas de conversas, debates, oficinas e a premiação.
No total, 16 curtas-metragens concorrem aos prêmios da Mostra Amazônia. Dedicada exclusivamente a obras dos estados da Amazônia Legal, a mostra competitiva vai premiar Melhor Filme do Júri e do Público, Direção, dois prêmios para Melhor Atuação, Roteiro, Direção de Fotografia, Montagem, Direção de Arte e Som. Filmes de outras regiões fora da Amazônia estarão na Mostra Olhar Panorâmico, que nesta edição terá 10 obras, disponíveis online na plataforma Sonoraplay (www.sonoraplay.net). Para o público infantojuvenil, foram selecionados seis filmes na Mostra Olhinho. Filmes de todo o país estarão na Mostra Outros Nortes, com 10 filmes selecionados.
A sessão de encerramento será às 19h de sexta-feira (25) e vai incluir a estreia, em território nacional, de “Eureka”, dirigido pelo cineasta argentino Lisandro Alonso. O longa teve seu lançamento recente na “Cannes Premiere” – seção não competitiva do maior festival de cinema do mundo, e tem como um dos protagonistas o ator amazonense Adanilo. Com uma narrativa ambientada na década de 1870, o filme mostra histórias em diferentes lugares do mundo. Uma delas destaca os problemas enfrentados por povos indígenas nas Américas do Norte e Sul. Após a exibição de “Eureka”, começará a cerimônia de premiação.
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Encerramento e premiação – 25 de agosto
Local: Teatro Amazonas
15h30 – Longa-metragem convidado – “Mato Seco Em Chamas”; direção Adirley Queiroz e Joana Pimenta, DF, 153’
19h – Sessão de Encerramento – “Eureka”; direção Lisandro Alonso (França, Argentina, Portugal, Alemanha, México), 146’
21h30 – Cerimônia de premiação
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Fotos de still do filme a Flor do Buriti, que narra a saga dos indígenas Kraô (Foto: Divulgação).
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