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Exposição em Portugal une fotografia, artes e literatura sobre a Amazônia

Mostra com 15 artistas conectados à região amazônica será aberta no dia 21 de março na Biblioteca do Palácio Galveias, em Lisboa, com curadoria do editor de fotografias Alberto Cesar Araújo e da pesquisadora luso-brasileira Lau Zanchi. A exposição em Portugal fica em cartaz até abril. A foto acima faz parte da série “Migrantes da Borracha” (foto:Marcela Bonfim).

A exposição “A Selva que nos Habita”, resultado de um diálogo entre a fotografia, a literatura e outras artes, propõe um olhar contemporâneo para a Amazônia e temas como os povos indígenas, o meio ambiente, a floresta e as mudanças climáticas.

Com curadoria do artista visual Alberto Cesar Araújo, editor de fotografia da Amazônia Real, e da pesquisadora luso-brasileira Lau Zanchi, da Universidade NovaFCSH de Lisboa, a exposição será aberta no dia 21 de março, na Biblioteca do Palácio Galveias, em Lisboa, Portugal, como parte do “Mês das Amazónias”. A exposição poderá ser vista até o dia 22 de abril. 

Acima, da esquerda para direita, curador Alberto César Araujo (Foto: José Cedovim/Expresso), e pesquisadora Lau Zanchi (Foto: Alberto César Araujo/Amazônia Real).

A mostra é inspirada no livro “A Selva”, do escritor português Ferreira de Castro. Publicado em 1930, o romance conta a história de um estudante português que vive no seringal Paraíso, em Humaitá, no Amazonas. A ideia partiu de Lau Zanchi, que convidou Alberto para a pesquisa dessa importante obra da literatura mundial e para a montagem da exposição. 

“Tentei aprofundar o diálogo entre a literatura, a fotografia, o fotodocumentarismo, o jornalismo e as artes visuais”, afirma Alberto, que viajou para Lisboa com o objetivo de participar da abertura da mostra. 

Na curadoria, ele procurou encontrar um equilíbrio entre o documental e o contemporâneo, o local e o estrangeiro, a subjetividade e a objetividade, a fabulação e a realidade. 

O artista visual fez pesquisas durante mais de um ano na Biblioteca Pública do Amazonas, no Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas e na Biblioteca da Assembleia Legislativa. Ele teve acesso a edições raras do livro de Ferreira de Castro e à obra de outro português que viveu na Amazônia, Silvino Santos, fotógrafo e cineasta que contribuiu para a construção do mito do “fausto amazônico” do ciclo da borracha. 

Fotografia digital em dupla exposição (captação direta) de imagens do acervo Silvino Santos (Museu Amazônico) e das obras raras de Ferreira de Castro (Biblioteca Pública do Amazonas) (Foto: Alberto César Araújo).

“Enquanto o primeiro, com seu romance, narra toda uma história de dor e sofrimento no seringal, o segundo foi, de certa forma, um criador da narrativa do capital, contratado pelos maiores produtores da época, os barões do látex como J.G. Araújo e Júlio Araña”, revela Alberto. 

O livro de Ferreira de Castro mostra a exploração da mão de obra, o racismo e o genocídio dos povos indígenas durante o ciclo da borracha na Manaus da belle-époque, a chamada “Paris dos trópicos”. Já Silvino Santos foi contratado por Araña para filmagens em seus seringais no Alto Solimões, onde o povo Witoto foi dizimado. O seringalista queria mostrar aos acionistas ingleses uma situação em que não existiam a exploração do trabalho e os ataques aos povos originários, ou seja, contou com o cineasta para a criação de uma ficção. 

“Com uma técnica da dupla exposição direta na câmera, tentei unir os dois portugueses para uma conversa da contradição”, explica Alberto no texto sobre a curadoria da exposição. “Pois, por trás da história oficial da borracha, há uma história esquecida, quase não narrada, a do genocídio indígena e de milhares de nordestinos que morreram vítimas de condições desumanas e de doenças tropicais”.

A exposição

Fotografia digital em dupla exposição (captação direta) de imagens do acervo Silvino Santos (Museu Amazônico) e das obras raras de Ferreira de Castro (Biblioteca Pública do Amazonas) ( Autor: Alberto César Araújo).
Fotografia digital em dupla exposição (captação direta) de imagens do acervo Silvino Santos (Museu Amazônico) e das obras raras de Ferreira de Castro (Biblioteca Pública do Amazonas) ( Autor: Alberto César Araújo).
Crianças brincam no centro de recuperação em Xapuri onde estava Genesio, a única testemunha do assassinato de Chico Mendes (Autor: Bruno Kelly/Amazônia Real).
Foto noturna de casas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, Amazonas (Autor: Bruno Kelly).
Série Fordlândia, Motoboy na espera na frente do depósito nas dependências abandonadas do megaprojeto norte-americano ( Autor: Luca Meola).
“A Luta do Povo Uru-Eu-Wau-Wau”, colagem de fotografias do acervo da indigenista e historiadora Neidinha Bandeira e sua vivência com os indígenas.
Mural da resistência – Marcha das Mulheres indígenas (Autor:a Samela Sateré Mawé)
Mural da resistência – Mobilização Indígena ( Autora: Juliana Pesqueira).
Mural da resistência – Liderança indígena Vanda Witoto no Parque das Tribos, em Manaus (Autora: Ariene Susui).
Emergindo, da série “Riversick” pelo fotógrafo manauara Raphael Alves também faz parte da mostra como também uma outra série dele sobre o seringal..
Imagem da Série Pajé-onça do artista indígena Denilson Baniwa sobre o tema das monoculturas no Brasil. (Autor: Denilson Baniwa).
Imagem da Série Pajé-onça do artista indígena Denilson Baniwa sobre o tema das monoculturas no Brasil. (Autor: Denilson Baniwa).
Reproduções do vídeo do documentário Vale dos Isolados (TV Globo e Globoplay)
Reproduções do vídeo do documentário Vale dos Isolados (TV Globo e Globoplay)
Série Migrantes da Borracha ( Autor: Marcela Bonfim)

Série Migrantes da Borracha ( Autor: Marcela Bonfim)
roça: raízes das sementes que fui plantado, 2024, colagem digital do artista Jarê Pinagé que também assina como Transkurumim.
Série Fogo Aberto da artista brasileira radicada em Londres, Marilene Ribeiro que usa a fotografia físico-química , com máquinas de médio formato e queima os negativos após a captação.
Série Fogo Aberto da artista brasileira radicada em Londres, Marilene Ribeiro que usa a fotografia físico-química , com máquinas de médio formato e queima os negativos após a captação.

A exposição reúne 15 artistas entre convidados e contemplados pelo edital Fomento às Artes e Cultura (Lei Paulo Gustavo), do governo do Amazonas. Todos estão conectados de alguma forma: pela imagética, pelo discurso, pelo conceito ou pelo território. 

Os artistas amazonenses são a fotógrafa, cineasta, educadora e ativista Juliana Pesqueira, da Amazônia Real; o fotógrafo, documentarista e fotojornalista Raphael Alves; o diretor de fotografia e artista visual Jarê Pinagê, o Transkurumim; a bióloga, comunicadora e influencer indígena Samela Saterê-Mawé; a escritora, artista visual e educadora Márcia Kambeba; o estilista e pesquisador de tecidos e tinturas naturais Sioduhi, do povo Pira-Tapuya; e o artista Denilson Baniwa, uma das grandes referências atuais das artes visuais brasileiras. 

A mostra reúne também o fotojornalista Bruno Kelly; a jornalista e ativista Ariene Susui, do povo Wapichana; e a fotógrafa e multiartista Marcela Bonfim.

Os convidados são a historiadora e ativista Neide Bandeira; os artistas visuais Marilene Ribeiro e Alexandre Sequeira; o documentarista italiano Luca Meola; e o fotógrafo e teórico português Paulo Magalhães.

Além da exposição, o Mês das Amazónias terá atividades como festival de cinema, música e eventos relacionados à economia criativa. 

Consórcio Forbidden Stories

Foto que mostra o processo de retirada de impurezas do ouro, faz parte da série de reportagens sobre o garimpo de ouro e a reconstrução da estrada entre Porto Velho(RO) e Manaus(AM), e estará compondo a exposição (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real/26/03/2023).

A mostra contará ainda com um painel formado por empresas e organizações jornalísticas que fizeram parte do Projeto Dom e Bruno, do Consórcio Forbidden Stories. 

A SIC e o Expresso, dois veículos portugueses, fizeram uma parceria com a Amazônia Real, com financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian, para produzir reportagens sobre o garimpo de ouro e a reconstrução da estrada entre Porto Velho e Manaus.  Já a Rede Globo foi até o local dos assassinatos um ano depois e reconstituiu os últimos passos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, mortos no Vale do Javari, no Amazonas. 

A Forbidden Stories é uma organização sem fins lucrativos fundada pelo jornalista e cineasta Laurent Richard. Promove a colaboração entre jornalistas para terminarem a missão de repórteres que foram impedidos de realizarem suas investigações. Desde a sua criação, 60 organizações de notícias e mais de 150 jornalistas – de 49 países diferentes e de cinco continentes – trabalharam em investigações colaborativas.

Serviço

Exposição “A Selva que nos Habita”, no evento Mês das Amazónias

Local: Biblioteca do Palácio Galveias, Lisboa, Portugal

De 21/3 a 22/4

Entrada gratuita

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